Coronel Carlos Eduardo Pinheiro da Silva autorizou a trocar a farda dos policiais para gravar desembargador e tentar afastá-lo das investigações, diz decisão judicial.
O corregedor-geral da Polícia Militar de Mato Grosso, Carlos Eduardo Pinheiro da Silva, foi afastado do cargo, segundo a PM. Ele é suspeito de trocar a farda dos policiais a fim de tentar pôr em prática um plano para colocar o desembargador Orlando Perri, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), em suspeição nas investigações sobre as escutas clandestinas no governo do estado.
Ele autorizou a troca da farda supostamente para atender ao interesse de gravar uma conversa com Perri, que seria possivelmente utilizada para tentar afastá-lo do processo de investigação. A troca foi autorizada um dia após a instalação de uma microcâmera na farda do tenente-coronel José Henrique Costa Soares, que atuava como escrivão nas investigações dos grampos na PM e teria sido cooptado a fazer parte do plano.
Com o afastamento dele, a função de corregedor da corporação passa a ser desempenhada interinamente pelo comandante-geral-adjunto da PM, coronel Paulo Ferreira Serbija Filho, de acordo com a instituição, até a nomeação do novo corregedor.
Na decisão de terça-feira (26), que mandou prender oito pessoas, entre elas secretários e militares do alto escalão da PM, o magistrado questiona a mudança da farda. "Por que alterou-se o fardamento, que, segundo o coronel Jorge Catarino Morais Ribeiro – encarregado do IPM (Inquérito Policial Militar – sempre foi o de passeio? Por que, de uma hora para outra, sem qualquer explicação, se o mudou para o de operações?", pergunta.
Na sequência, o próprio magistrado responde às perguntas. "A situação parece ter resposta no depoimento do tenente-coronel Soares, que, revelando a exigência do grupo em obter imagens e áudios que pudessem comprometer ou colocar em dúvidas a imparcialidade deste relator, dele exigiu duas fardas, que seriam analisadas pelo sargento Soler, sobre qual melhor se acomodaria o aparelho espião", declara.
O sargento ao qual ele se refere é João Ricardo Soler, que, segundo a decisão, teria instalado o equipamento na farda do tenente Soares e o orientado sobre como utilizá-lo para fazer a gravação do desembargador, que é relator na investigação das interceptações clandestinas, no TJMT.
Segundo o desembargador, o tenente-coronel contou que o coronel da PM Evandro Alexandre Lesco e a mulher dele, a personal trainer Helen Christy Carvalho Dias Lesco, pediram que ele filmasse o magistrado e o chantagearam, com informações pessoais a respeito dele. Lesco e a mulher dele foram presos nesta quarta-feira (27) na Operação Esdras, da Polícia Civil.
Soares disse ao magistrado que eles souberam que ele era dependente químico e dono de uma empresa privada, o que é proibido a servidor público, e ameaçaram usar essas informações contra ele, caso não os ajudasse com o plano para tirar Perri das investigações.
A intenção era gravar alguma parte de uma conversa que pudesse comprometer Orlando Perri para que pedissem a suspeição dele no processo de investigação.
Por Pollyana Araújo, G1 MT